Sunday, September 02, 2007

ISTO NÃO É UM COMENTÁRIO

Miguel Morgado aplaude em O Cachimbo de Magritte uma das previsíveis consequências da aplicação do processo de Bolonha. Pedro Picoito, também ele da equipa de O Cachimbo de Magritte contrapõe com receios de que a uniformização implique redução das nossas possibilidades competitivas no contexto europeu.
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Observei:
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"Prevejo(...) a uniformização da oferta em toda a Europa e, consequentemente, a nossa perda de competitividade em tudo..."
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Leio e fico perplexo com uma dedução destas em mente que se crê liberal.
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O processo de Bolonha não é imperativo e muito menos cerceador da liberdade de diversificação da oferta.Mas a questão que o "post" de Miguel Morgado levanta tem pouco a ver com a uniformidade que o Pedro Picoito receia. A possibilidade de migração lectiva entre as diferentes áreas do conhecimento se alguma incidência tem nas preocupações de Picoito, essa incidência vai no sentido de promover a diversificação da oferta. Sem essa possibilidade o afunilamento, uma vez iniciado, é praticamente irreversível.
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Eu, que, seguramente, já não tenho a idade do Miguel nem do Pedro, recordo, ao ler estas vossas reflexões, os tempos em que muitos eram obrigados a prosseguir (os que podiam) os seus estudos fundamentalmente em função das suas condições económicas, das facilidades de proximidade, de um sem número de condicionantes.
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Muita coisa mudou, felizmente, desde então. Mas não mudou o suficiente.Que a nossa adesão à UE esteja a provocar mudanças que nós, de moto próprio, não sabemos ou não queremos fazer, não me admira.Foi o nosso afastamento dos movimentos (muitas vezes conflituosos) que moldaram a Europa que inibiu o crescimento que só os desafios, a competitividade, podem desenvolver.
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Não resultarão da globalização (da europeização, em particular) perdas de diferenciação cultural? Sim, inevitavelmente.
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Mas não podemos deixar de considerar que, muitas vezes, quando falamos de uma cultura, falamos de falta de cultura.
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Viva a diferença, claro, mas viva também a possibilidade de cada um poder fazer o seu caminho, às curvas se assim o entender

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