Monday, August 06, 2007

SOMA, E SEGUE?

Já, por diversas vezes, trouxe aqui para o Aliás opiniões de Nouriel Roubini (RGE monitor), nomeadamente, acerca da crise latente que atravessa o sector financeiro nos EUA em consequência do desmoronamento que se observa no mercado das sub-prime. E a propósito desse facto, tenho-o comparado com os riscos múltiplos que impendem sobre a economia portuguesa, fortemente dependente da construção civil, do mercado imobiliário, do crescente endividamento das famílias.
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Transcrevo:
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Tem sido largamente debatida na imprensa especializada a questão da crise que se abateu sobre o mercado de crédito hipotecário nos USA, normalmente conhecido por “sub-prime loan market”.Trata-se de um mercado em que se transaccionam créditos hipotecários concedidos a devedores de alto risco (pelos bancos chamados originadores) – um pouco à imagem do crédito que entre nós é concedido pelas múltiplas empresas financeiras (IFIC’s e outras) que concedem crédito a particulares por métodos simplificados (sem uma análise de risco minimamente cuidada).Essa crise no “sub-prime” acentuou-se nos últimos dias, tendo causado já sérias dificuldades em instituições financeiras não só nos USA mas noutros Países como a Alemanha.Em consequência dessa crise é hoje muito mais dificil obter crédito bancário em alguns segmentos do mercado, por exemplo o crédito que até agora era generosamente concedido aos fundos de “private equity” para aquisição de participações no capital de empresas.Outra das consequências é a maior dificuldade dos bancos originadores em alienar os créditos concedidos para o mercado através do método da securitização (ou titularização).Este último método, da securitização de partes da sua carteira de crédito - com destaque para o crédito à habitação – tem sido abundantemente utilizado pelos bancos portugueses nos últimos anos para financiar a expansão da sua actividade creditícia face ao escasso crescimento da poupança interna, ou seja dos depósitos dos particulares e das empresas.É a esta luz que interpreto a notícia divulgada esta manhã de subida acentuada das taxas do crédito à habitação, que estão agora acima de 6% e poderão ainda aumentar.Quer isto dizer que em 2 anos as taxas de juro aumentaram mais de 100%.Os bancos devem estar a reagir por antecipação, prevendo maior dificuldade em obter “funding”- via securitização - para refinanciar o crédito que concedem.Maior dificuldade e também “spreads” mais elevados.O agravamento dos “spreads” deverá transmitir-se ao crédito às empresas, resta saber com que amplitude.Face a esta evolução, valerá a pena recordar a famosa história dos “arredondamentos” que Pinho Cardão e eu próprio aqui criticamos pela sua irrelevância salvo quanto ao efeito de propaganda, o tal marketing oficial.É hoje bem visível a inutilidade de tais arredondamentos face a estas subidas dos juros dos empréstimos.E o que dizer em relação ao forte crescimento dos resultados dos bancos?Mas muito mais importante do que isso tudo é o excesso de endividamento que não tem solução à vista – a tendência continua a ser para maior agravamento.São cada vez mais visíveis os riscos desse excesso de endividamento a que nos entregamos quando entramos no Euro muito alegres, felicíssimos, mas de olhos fechados.
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Comentei:
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Pois, pela minha parte, não vejo que possa haver grandes discordâncias.
Um dos economistas que nos USA mais se tem dedicado a este assunto das sub-prime (o seu blog http://www.rgemonitor.com/blog/roubini) é um dos "paineis de bordo" mais consultados, segundo o Washington Post), tem vindo a prognosticar com grande grau de acerto, a evolução da situação e a sua influência na economia em geral.
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Há quem argumente, e suponho que é esse o alcance da pergunta de T., que a comparação do endividamento das famílias pressupõe, para ser correcta, a comparação do endividamento sem amortizações por aquisição de casa própria.
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Nos USA, tem-se observado ultimamente um número elevado de resolução de contratos de empréstimos bancários por entrega de casas que no mercado valem muito menos do que o valor de aquisição. Em Portugal, as garantias pessoais inibem os compradores de procederem de igual modo e, esse facto, do meu ponto de vista, é um dos factores de sustentação dos preços num mercado que cada dia que passa acumula stocks.
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Até quando?

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