Wednesday, May 23, 2007

O MAL E A CUNHA

António Barreto, um dos colunistas mais prestigiados cá do sítio, escreve no Público de domingo passado, a propósito do desconcerto que se observa no ensino superior, e particularmente no ensino superior privado, um artigo (O mal e a caramunha) onde, afirma: "É justo responsabilizar o Governo (...) (porque) o Estado atribui-se a competência de reconhecer as instituições, de certificar o seu interesse público...O Estado diz aos estudantes: podem frequentar em paz estas instituições...(mas) depois queixa-se da proliferação de cursos absurdos..."
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A finalizar, AB sentencia que "O reconhecimento do valor profissional dos diplomas compete obviamente às ordens profissionais (...) Ao Ministério das Universidades deveria apenas competir zelar pelo entrosamento do ensino superior privado no conjunto do sistema de ensino superior (...) assim como facilitar, desde que não seja o próprio a fazê-lo, a criação de regras de avaliação pública e informação capazes de tornar relativamente transparente e acessível este sistema público".
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Mesmo atendendo ao facto de AB ter feito toda a sua carreira profissional no âmbito de organizações governamentais ou académicas do Estado, esperava-se que ele tivesse uma perspectiva diferente daquela que tem conduzido ao actual estado de coisas. A avaliação das competências devem fazê-la os empregadores, a começar pelo maior empregador que é precisamente o Estado, e nomeadamente no recrutamento do maior número dos seus servidores, que são os professores, a começar pelos docentes universitários. AB sabe bem, que a prevalência da endogamia nas universidades, que lhe tem arruinado a fibra genética, decorre, frequentemente, da cunha e do amiguismo.
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A intromissão das ordens profissionais (resquício corporativista que faz cada vez menos sentido numa sociedade livre) e a desvinculação dos órgãos universitários no processo de auto regulação
fazem do texto de AB uma receita requentada.
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A avaliação de competências deve realizar-se mediante a prestação de provas. E esta afirmação, que deveria ser uma banalidade numa sociedade que primasse pela transparência dos processos, está quase completamente arredada da forma como se processam as admissões dos servidores do Estado. Os resultados estão por demais à vista: campeia a incompetência por recrutamentos e progressões na carreira sem provas em exames específicos. É de tal modo grosseira a paralaxe que se estabeleceu do lado dos que servem o Estado, e normalmente o criticam, como se a culpa fosse dos que não trabalham dentro das suas paredes, que o sindicato dos professores interpõe providência cautelar para um exame que nem sequer consequências tem para os professores e alunos.
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