Monday, April 16, 2007

TARAS NACIONAIS

"Sou finalmente doutora!" O grito de alegria soou estranho nos corredores da Universidade Independente: o ministro da Ciência e do Ensino Superior (...) acabava de anunciar o encerramento compulsivo da escola. "Sou finalmente doutora", repetia a aluna (...).
(...) AC desabafava, chorosa, com a sua professora (...) "Estava quase a ser doutora" (...)
in Expresso de 14 de Abril, "Diplomas na hora H"
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Em Portugal, no início do sec XXI, para a maior parte dos que frequentam o ensino superior, o objectivo é um título. Seja para o que for, em qualquer caso, é "doutor"! Com aspas.
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Não fosse também esse o objectivo de Sócrates, porque razão se esforçou ele tanto (o modo é outro assunto) para obter um diploma em engenharia quando as suas asas políticas já tinham envergadura suficiente para lhe evitar ter de aterrar em chão de cimento armado? A razão é óbvia, e o caminho escolhido mais óbvio ainda: se um título ainda é tão importante, num país que dentro de três anos celebrará 100 anos de República, um primeiro ministro tem, forçosamente de ter um título. Tivesse a história sido outra, e Manuel Alegre o escolhido, o poeta poderia invocar-se "Conde da Anadia" e não teria de usar um título entre aspas. Sem linhagem nobiliárquica, com pouco mais de metade das cadeiras feitas numa escola de engenharia, e pouco tempo disponível para frequentar as restantes, Sócrates arrematou de um lance um molho delas por causa de um título.
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Por imposição de uma mentalidade nacional retrógrada.

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