Saturday, April 07, 2007

POR QUE É QUE AS BOAS NOTÍCIAS ASSUSTAM AS PESSOAS?

Se hoje as pessoas, em geral, vivem em condições muito melhores do que no passado, por que é que andam tão descontentes, por que é que resmungam em vez de sorrirem? Por que é que não se sentem felizes por terem tido a sorte grande de viverem nos dias de hoje?
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Steve Olson, em Mapping Human History, calcula que 80 biliões de seres humanos "modernos" - desde os primeiros seres reconhecidos como nossos antepassados até ao advento do "Homo sapiens ", o nosso nome oficial em termos antropológicos - andaram na terra durante milénios. Supondo que este número está correcto, os homens e mulheres das classes médias ou superiores dos EUA e da União Europeia vivem hoje muito melhor do que 99,4% de toda a humanidade que alguma vez existiu.
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Aliás, os norte-americanos e os europeus com um nível de vida médio não só vivem hoje em melhores condições do que 99% dos que nos antecederam em toda a história da humanidade, como vivem melhor do que a maior parte da realeza no passado. Se outras razões não existissem para essa melhoria, a simples disponibilidade de antibióticos justificaria a diferença.
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Robert Frank, um professor de economia da Universidade de Cornell, refere a este respeito, por exemplo, que hoje se encontram à venda em mini lojas dos postos de abastecimento de combustíveis vinhos de qualidade muito superior daqueles alguma vez bebibos pelos reis de França. Hoje, os supermercados têm à venda dezenas de produtos a um custo acessível que as pessoas no passado considerariam uma "delicatessen" e que morreram sem as ter provado.
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E, no entanto, as pessoas de hoje não valorizam a sorte que lhes coube. Segundo uma sondagem feita nos EUA em 1997, 66% das pessoas consideravam que "a sorte das pessoas, em média, estava a piorar". Contudo, se lhes fosse dado um bilhete (só) de ida ao passado muito provavelmente ninguém aceitaria a oferta, a menos que lhes prometessem a reincarnação numa personagem célebre.
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A principal razão por que tanta gente no ocidente se sente pouco feliz com a época que lhes coube em sorte, ou não acredita que as suas vidas são favorecidas por viverem hoje, é a descontinuidade entre a prosperidade e a felicidade, porque a primeira avança e a ânsia de a alcançar retarda sempre a segunda.
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Mas existem outras razões. Uma delas é a preferência das elites pelas más notícias, e as elites são decisivas na formação da opinião pública. Parte desta atitude pode ser explicada por um sentimento de culpa por parte dos mais privilegiados ao repararem, para baixo, nas sociedades que criam as riquezas que eles desfrutam. Por outro lado, quando as coisas não correm bem, as pessoas comuns voltam-se para as elites à espera de soluções; se os tempos correm de feição as elites perdem importância relativa.
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O jornalismo em geral explora de uma forma exagerada as más notícias porque sabe, de fonte segura, que são elas que lhes aumentam as audiências e o número de leitores. As notícias relatando crimes e outras desgraças ocupam, de longe, muito mais espaço e muito mais tempo em alguns jornais e telejornais do que todas as outras notícias em conjunto.
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É possível que isto aconteça porque a evolução humana foi condicionada desde as suas origens para enfrentar o pior. O Homo sapiens terá evoluído numa predisposição para atitudes negativas.
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(adaptado de "The Progress Paradox", de Gregg Easterbrook)

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