Monday, April 23, 2007

O MÉRITO DA MEDIDA

Caro J
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Não concordo consigo neste seu "post" de hoje que, aliás, repete a sua enorme desconfiança por tudo o que cheire a mudança na administração pública. O que, diga-se de passagem, é natural. A aversão à mudança é um sentimento que aflige a maior parte das pessoas.

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Mas a verdade é que não há outro modo de recompensar quem mostrar mais mérito se não proceder a avaliações. Podemos é discutir o método ou os métodos e a forma como são aplicados, mas essa já é outra história.
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Há dias V. insurgia-se, e com razão, contra a bajulação, que faz de qualquer chefe um reizinho no seu território. Já dessa vez lhe referi que, do meu ponto de vista, a única forma de extirpar essa forma abjecta de comportamento é adoptar meios objectivos de avaliação.
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E é isso que vale a pena discutir.
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Muitos dos métodos de avaliação estão sobejamente testados para poderem garantir razoáveis níveis de objectividade. Mas nenhum é perfeito. Não há métodos perfeitos. Mas os métodos, não sendo perfeitos, são susceptíveis de aperfeiçoamento.
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E não vale a pena, por vezes, fazer cálculos muito elaborados para se avaliarem as necessidades de meios para os objectivos a atingir. Um dos métodos é a comparação com outras situações reconhecidamente mais adequadas: no jargão destas coisas, o "benchmarking".
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Tomemos,por exemplo, o Ministério da Defesa. Precisamos de envolver nele os meios que hoje estamos a envolver quando sabemos que esse envolvimento excede, relativamente à riqueza que criamos, a média da União Europeia?
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E o Ministério da Agricultura, que V. cita, faz algum sentido com os resultados que apresenta?
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E o Ministério da Economia, V. é capaz de defender aquela estrutura para o que lhe compete fazer?
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E...por aí fora.
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Evidentemente que ninguém gosta de ser sentido a mais. É o insulto mais grave que pode fazer-se alguém. Mas já assume contornos bem diferentes pegar na questão exigindo competência para os lugares que desempenham e razão de ser para esses mesmos lugares.
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Se não cada vez mais haverá gente a mais.
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Neste país, caro J., há cada vez menos folga para jogar ao faz-de-conta
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1 comment:

A Chata said...

"Se não cada vez mais haverá gente a mais."

Não tenha dúvidas, 8 mil milhôes e picos e continuamos a crescer.

Não há planeta que aguente!

Agora, a sério, não tenho tanta confiança assim nesses "meios objectivos de avaliação" e falo com conhecimento de causa.
Na empresa onde trabalhava foi implementado o processo de avaliação do pessoal que, apesar das várias reformulações, não produziu resultados brilhantes.

Os projectos continuaram a ter datas alvo (alvos móveis como costumava chamar-lhes) que eram adiadas de reunião em reunião. Os "ronhas" continuaram a "ronhar" e agora até podiam colocar no mapa de horas de trabalho o tempo gasto a introduzir dados para avaliação.

As relações pessoais, a "arte" bem portuguesa de "dar a volta" aos problemas e a sensação que rapidamente se instalou sobre a pouca utilidade do processo versus o tempo dispendido no preenchimento dos formulários foi notória.

O objectivo que tinha não foi cumprido? Porquê?

Porque necessitava de dados de outro departamento que não foram fornecidos.

Porque o sistema informático teve problemas.

Isto para já não entrar pelas desculpas mais mesquinhas.


Se cada membro do governo só pudesse "arranjar" um lugarzinho na administração pública ou nas empresas públicas para os familiares do 1º grau, excluindo o resto da familia, os filhos dos amigos, os afilhados, o familiares da porteira e do motorista talvez as coisas melhorassem.