Saturday, February 10, 2007

OS PAPAGAIOS




É difícil encontrar entre os analistas e comentadores políticos da nossa praça algum que tenha feito alguma coisa na vida para além de cantar do poleiro. Estas aves frequentes, uma vez instaladas no baloiço, repetem exaustivamente os mesmos assobios e vão manducando à conta de quem gosta e lhe garante as pevides.

E, valha a verdade, há muita gente que gosta. Há muita gente que se baba de gozo masoquista pela visão da tragédia ou pelo anúncio de desgraças. A queda da ponte de Entre-os-Rios atraiu excursões de curiosos, as televisões chupam até ao tutano todas as pequenas ou grandes tragédias porque sabem que há um íman nas imagens que transmitem repetidamente, e que lhes garante crescimento de “share”.

Quando um comentador conhecido, remata a sua crónica acerca da viagem do PR à Índia com uma conclusão reprovadora: “A maior gaffe da viagem foi a viagem”, ele sabe que tem as pevides garantidas. Este comentador dirá o mesmo acerca de qualquer viagem; dirá o mesmo se não houver viagem. Não porque ele tenha qualquer vivência ou experiência das viagens de negócios, mas porque não sabe assobiar de outro modo, e aprendeu que este é o modo que lhe rende.

Para as viagens à Índia e à China, realizadas recentemente, embarcaram não só os políticos mas também vários empresários. Sabemos, no entanto, que muitos desses empresários não perdem uma única oportunidade de se agarrar às franjas do poder para assegurar vantagens e nestas viagens roçam-se nas franjas. Estarão todos embrulhados numa alucinação que não os levará nem a eles nem a ninguém a lado nenhum?

Os empresários foram à Índia e à China por interesses turísticos e de pavoneio social porque o Oriente não nos interessa e, muito menos, Portugal interessa ao Oriente?

Não é credível.

Visto da Índia ou da China, Portugal é, na aldeia global, um recanto no mapa e o interesse que lhes poderemos suscitar não pode deixar de corresponder às nossas dimensões. Inversamente, a dimensão dos mercados chineses e indianos e, sobretudo, as progressões dos seus crescimentos não podem deixar de interessar aos portugueses. Sob pena de comprometermos cada vez mais a nossa saída da encruzilhada em que nos metemos.
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Àqueles, que vêm em todas as acções e tentativas de saída da encruzilhada intenções desajustadas ou segundas intenções, pergunte-se: Mas então, por onde devemos ir?

Pergunte-se, mas eles não sabem responder.

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