Saturday, January 13, 2007

O DISCURSO DO TAXISTA


A Dona Constança (Cunha e Sá) tem, além do mais, lugar garantido no “Público” para escrever crónicas e ganhar a vida. O que não é notícia porque muita gente faz o mesmo. Vasco Pulido Valente, sua alma gémea, é outro entre muitos exemplos. Mas a Constança & Vasco são um caso aparte na forma como replicam variações à volta do tema com que Maria Rattazzi em " Le Portugal à vol d´oiseau" nos brindou nos finais do sec. XIX.

No “Público” de ontem, a Dona Constança volta a baralhar e dar de novo a crónica dos nossos congénitos entorses.

Começa a Dona Constança por dizer “Qualquer pessoa que ande frequentemente de táxi já foi, com certeza, bombardeada com e velho discurso da praxe sobre a “corja” dos partidos e a “malandragem” que nos governa e a famigerada “desordem” que reina impunemente na pátria.”

Mais adiante, prossegue a Dona Constança dizendo que “a srª. Thatcher, quando cá esteve, não ficou particularmente impressionada quando tomou conhecimento dos elogios que choviam nos táxis à sua pessoa e à sua “corajosa” política. Conforme lembrou, na altura, os taxistas são, em qualquer país que se preze, um corpo habitualmente reaccionário que não reflecte obrigatoriamente o sentimento geral da população…”.

Prossegue então a Dona Constança o seu discurso habitual de dissecação do nosso corpo colectivo preenchendo as habituais três colunas encomendadas com reportório das nossas taras e dos nossos furúnculos. Nada que ela não tenha já dito mil vezes antes, nada que os taxistas vulgarmente não apregoem, nada que muita gente não se compraza em ler e concordar todas as vezes que a Dona Constança tenha que escrever para apresentar recibo.

O que há de original nesta crónica é, para além de outras contradições que porventura se devem a alguma pressa imposta pela rotativa, o facto da Dona Constança começar por arremeter contra os taxistas que afinal dizem o mesmo que a Dona Constança, e finalizar concluindo que “os nossos taxistas são bastante mais representativos do que a srª. Thatcher julgava.”

Pois, porventura, são. Com uma enorme diferença relativamente à dona Constança: é que além do discurso o taxista realiza o seu trabalho de condução da viatura e só cobra por este.

O que é mais faz a Dona Constança além de nos bombardear sempre com o mesmo velho discurso da praxe?

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