Monday, January 22, 2007

O CRISETINO


Vasco Pulido Valente tem uma obrigação ingrata: a de escrever seis meias colunas semanais no Público para equilibrar o orçamento doméstico. Sem este último constrangimento quero crer que VPV não teria de espremer-se de tanta acidez ineficiente. Contrariamente ao limoeiro, que além de pródigo na produção é polivalente nas habilidades, de VPC o que escorre é, constantemente, uma verrina seca. VPV poderia, se fosse essa a sua índole, cumprir o contrato com divagações menos angustiadas. Mas não é, e a necessidade, nele, aguça-lhe a propensão para o destempero.

Na passada sexta-feira, 19, (Crise! Que Crise?) VPV, depois de sumariar as razões da nossa crise crónica, aliviada apenas num “pequeno intervalo”, conclui sem margem para quaisquer esperanças: “A “crise” que por aí se dramatiza continua uma velha tradição nacional. Dessa “crise” nunca, de facto, conseguimos sair. E não se percebe por que iríamos sair agora.”

VPV, diga-se em abono da verdade, está longe se ser um caso isolado na nossa imprensa, recheada de tocadores de fado mal fadado, geralmente feridos de impotência para a realização de qualquer utilidade, mas leva a transmissão dos sintomas das suas frustrações a níveis que se transmutam em sentimentos mais condenáveis.

Porque VPV, ao condenar-nos irremediavelmente à crise, diagnostica-nos uma malformação congénita e endémica, qualquer coisa má, muito nossa, como a doença dos pezinhos mas sem perspectivas de qualquer descoberta científica redentora. Com uma agravante terrível: atinge o país todo e induz, portanto, uma implicação racista.

Segundo VPV, sem apelo, os portugueses são uma “raça” condenada à crise.

Da qual, de facto, nunca saímos, mesmo no tal pequeno intervalo - palavras de VPV.

E de onde não convém a VPV que se saia. Se saíssemos lá se lhe ia o tema. Sem crise tem VPV um problema.

1 comment:

Anonymous said...

A NOSSA CRISE CRÓNICA

A crise e o VPV é o seu assunto de hoje. E eu penso que o Rui nunca poderá perceber o Vasco, porquanto a sua formação de Economista casa bem com a palavra crise... (económica, penso que é isso que o VPV se refere) enquanto o VPV é um jornalista crítico e não se entende bem com a palavra, como foi o caso também da Maria João Avilez que, quando entrevistou o Cavaco lhe perguntou, Presidente... mais reformas... sim, disse Cavaco, este governo é reformista.... mas andamos uma vida inteira nisto, disse MJA. Penso que o Baptista Bastos é da mesma opinião quando diz: “Não: o ano de 2006 não foi bom. O Governo fecha os olhos à realidade e, com gélido cinismo, procede a uma das mais afrontosas arremetidas sociais, sob a falaciosa argumentação de ser "reformista". Vivemos um período lutuoso da nossa História, e muito do que as gerações anteriores conquistaram com brio e com risco está ameaçado. Tornámo-nos no mimetismo servil de sociedades economicamente poderosas, mas não sei se culturalmente influentes. Muitos daqueles que prometiam o resgate social e a redenção mental estão a impor-nos o pesadelo de uma existência sem virtude nem esperança. Há quarenta anos, íamos "a salto" para os países de maior desafogo: areávamos os metais aos alemães, limpávamos a merda que os franceses faziam, ou perdíamo-nos nos matos e nas savanas, em demanda do sustento que só o desterro possibilitava. Éramos a hipótese dramática do que havíamos sido, e estávamos à mercê dos caprichos de empregadores gananciosos e de grandes empresas sem escrúpulos nem humanidade. Porém, alimentávamos a fé, porque de fé se tratava, de um dia regressar e acender o fogo do nosso lar com a dignidade finalmente conquistada”.
Eu, não é para chatear mas estou com o VPV e com o BB.
Essa da “obrigação ingrata: a de escrever seis meias colunas semanais no Público para equilibrar o orçamento doméstico”, é um bocado dura, não sei se será legítimo entrar por aí. O homem fala da crise do País... e você dá-lhe forte com essa da “verrina seca”. E você continua arreando forte no pobre coitado por ele dizer que os portugueses são uma raça condenada `a crise.
Veja bem, o seu papel aqui, seria o de desmontar a tese do Vasco via demonstração matemática/ económica. Por uma razão simples; é que você, como economista, sabe fazer isso e nós, os outros, não sabemos. A coisa é simples de entender. Aqui há ¾ dias o Carlos Tavares da CMVM disse que se espantava quando em PORTGAL se dizia que era prejudicial para o País o aumento das taxas de juro. O actor Aleluia da Praça da Alegria interrogou-se logo: como é que é possível os bancos aumentarem as taxas de juro a seu favor e pagarem-nos a nós as taxas mais baixas nos Depósitos à Ordem quando o dinheiro é nosso. Há diferenças de opiniões entre quem percebe da coisa e quem não percebe.
Rui, deveria explicar a matéria, humildemente, e não arrear no homem. O que é que acha?
João Brito Sousa