Monday, July 10, 2006

SERIA MILAGRE

A floresta mediterrânica, predominantemente povoado por resinosas, de elevado potencial combustível, é obrigada a viver os meses de Verão em clima quente e seco, num forno.
Em Portugal, essas condições climatéricas são, geralmente, exacerbadas por uma estiagem mais prolongada. É normal, portanto, que a floresta arda.O que é anormal é que arda tanto.
Já muita gente e muitos relatórios explicaram as causas da desgraça e avançaram com terapêuticas para a combater, ainda que, relativamente a este último ponto, haja por vezes substanciais divergências.
Ano após ano, promessa atrás de promessa governamental, investem-se milhões em meios de ataque, em tudo excitantes aos que mobilizam as tropas para a guerra, e o resultado são fífias quando, no pior dos casos, não são bombeiros e populares carbonizados pelos incêndios que combatiam.
Quem não andar completamente distraído, decerto pode observar que a generalidade das nossas florestas é povoada por matos e resíduos secos à espera de um fósforo. Os acessos são, na maior parte de casos, extremamente difíceis, mesmo para viaturas adequadas.

A todas as razões que tornam a floresta portuguesa extremamente vulnerável acresce uma que potencia uma grande parte delas: a extrema pulverização da propriedade rural em Portugal a norte do Tejo. Portugal tem mais de 300 mil proprietários florestais, um número idêntico em valor absoluto ao dos Estados Unidos da América.
Não há, por esta razão preliminar, condições que permitam defender a floresta, porque não há possibilidade de rentabilidade que suporte essas condições. Toda a actividade económica para ser competitiva e possa sobreviver, pressupõe uma dimensão mínima crítica, e esta, claramente, não existe, na generalidade dos casos, na exploração florestal em Portugal.
De modo que só por milagre a floresta em Portugal deixará de arder mais e mais cada ano que passa, até à sua quase extinção.Enquanto não for reconhecido que os investimentos no combate devem ser canalizados para a defesa, continuaremos a ter fogos cada vez mais extensivos.
O problema é que uma defesa eficaz da floresta passa, necessariamente, pela alteração profunda da estrutura fundiária actual.E aí é que reside o busílis da questão: tal alteração pressupõe a tomada de medidas que só um acordo de regime poderia suportar. Mas parece que ninguém quer dar um passo nesse sentido.
Guardadas as inevitáveis diferenças, a questão é em tudo idêntica àquela que está subjacente, na maior parte dos casos, à falta de produtividade da nossa agricultura.
Sem que o Mi(ni)stério da Agricultura pareça dar por isso.

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