Wednesday, June 21, 2006

O OURO DO RATO

O OURO DO RATO

2ª. PARTE


De o PÚBLICO de 2006-06-21:

SÃO CARLOS - … O orçamento da próxima temporada é de cerca de 16 milhões de euros, correspondendo 14 milhões ao investimento do Ministério da Cultura, um milhão ao Millennium BCP (mecenas exclusivo) e 1.027.788 de receitas próprias. A ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, sublinhou a aposta forte do ministério no Teatro São Carlos, que teve nesta temporada um aumento de 3,5 milhões de euros, e anunciou a conversão em breve do teatro em empresa pública.

Não sei se os bilhetes atribuídos, ou requisitados, ou cativados, ou reservados, pelo BCP, para brindar os amigos, são pagos aos preços de bilheteira ou supõem-se pagos em contrapartida da sua condição de “mecenas exclusivo”. Mas mesmo que se admita a hipótese de que os bilhetes adquiridos pelo BCP são pagos ao preço de bilheteira, e ao BCP apenas é concedido o privilégio de poder reservar, com prioridade sobre os espectadores comuns, um certo número de lugares, o preço pago pelo “mecenas exclusivo” não cobre mais do que 12% do custo dos espectáculos realizados em São Carlos.

Acresce que alguns dos amigos do BCP recebem os bilhetes oferecidos mas, ou por que o espectáculo não lhes agrada ou porque têm outras prioridades, não aparecem. Quando isto acontece, e acontece muitas vezes, não só em São Carlos mas também em outros espectáculos financiados pelo Orçamento Geral do Estado, o espectador comum, que paga impostos com que se suportam os 88% custos restantes, vê, frequentemente, negada a possibilidade de assistir a espectáculos, “porque se esgotaram os bilhetes”, mas as cadeiras ficam vazias à ordem de quem pagou por elas, no máximo, a módica quantia de 12% do custo.

O “mecenato”, neste caso e em muitos outros, não é mais do que uma forma encapotada de publicidade relativamente em conta, a favor de quem faz de conta que é mecenas. E ainda por cima, com exclusividade.
Poder-nos-íamos ainda interrogar acerca da legitimidade do pagamento, pelos portugueses, de 16 milhões de euros para que em SÃO CARLOS uns poucos assistam a espectáculos que não lhes custam mais do 6% do preço de custo. Mas correríamos o risco de nos apodarem de demagogia e vistas curtas.
Ou de fanatismo do déficit orçamental.

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