Tuesday, November 08, 2005

O PRIMA-DONA

Sempre que Mário Soares se candidatou e eu votei, votei em Mário Soares.
Mas nele, não voto mais.

Mário Soares demonstrou no seu segundo mandato que, mais do que os interesses do País, são, agora, os desígnios indisfarçáveis de afirmação pessoal que movem as suas intenções: o palco é dele e não o cede.

Mário Soares diz-se republicano e laico mas adoraria que o entronizassem e adorassem. Aliás, ele sente-se entronizado e crê-se adorado; podem as sondagens, eventualmente, dizer o contrário, mas ele está seguro que o Povo acabará, na altura própria, por recolher ao seu redil.

A ele tudo se consente, porque ele a tudo se sente consentido.

Qualquer outro político que arrotasse aos sete ventos que era “um homem de cultura”, “um homem culto”, “um humanista”, ou coisa parecida, seria trucidado na praça pública por gabarolice sonsa. Mário Soares, não: diz o que lhe dá na real gana, ninguém comenta.

E como prima-dona que não soube retirar-se a horas, nunca deixará de se sentir em palco.

Mais dia, menos dia, com palmas gravadas.

1 comment:

Ana M. said...

Já eu, quanto a ter votado alguma vez no nosso "pai da Pátria", estou de consciência totalmente tranquila. Nunca senti inclinação por tal personagem. Preferi o voto em branco. Talvez por isso, nada do que, dali, venha, irá surpreender-me. Mas essa ideia das palmas em lata, acho-a óptima e, pelo caminho que isto leva, não tardará a ser adoptada...