Tuesday, March 12, 2024

O ÊXITO DO ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO

"O ADN (ácido desoxirribonucleico) é um polímero composto por duas cadeias polinucleotídicas que se enrolam umas sobre as outras para formar uma dupla hélice O polímero carrega instruções genéticas para o desenvolvimento, funcionamento,  crescimento e reprodução de todos os organismos conhecidos e muitos vírus..." Pois é, é isto e muito mais, a descoberta que mudou radicalmente o entendimento da espécie humana relativamente sobre seres que sendo, aparentemente tão diferentes, são realmente tão semelhantes por diferirem quase nada entre si, considerando a extrema complexidade da formação da vida. 

Muito pouca gente saberá o que é que ADN significa. Incluindo, obviamente, o bom povo português que votou no domingo no ADN. 
E, no entanto, o acrónimo é usado a propósito, mas sobretudo a despropósito, na linguagem corrente: por exemplo, o tipo é um malandro, não há nada a fazer, está-lhe no ADN. Ou o tipo é um lutador, está-lhe no ADN.
Quando o ADN ainda não tinha chegado ao conhecimento humano, dizia-se, por exemplo, o tipo é um lutador, está-lhe na massa do sangue. Não era bem assim mas não estava longe.

O ADN, sigla que identificava um dos partidos no boletim de voto,  Alternativa Democrática Nacional, teve, desde a sua fundação uma aventura tortuosa até se tornar no mais falado no dia das eleições. 
Agora, quando os resultados das eleições já são conhecidos, parece que o país entrou em estado de choque. E as explicações multiplicam-se. 
Sem necessidade nenhuma disso porque bastava analisar o ADN deste ADN que constava entre os 14 partidos concorrentes, a maioria dos quais estranhos ao bom povo português.
 
Nasceu com outra designação, em 2014, pela mão do advogado António Marinho e Pinto. 
Foi registado como PDR, Partido Democrático Republicano, concorreu às eleições de 2015, não elegeu nenhum deputado. 
Na altura, o chamado Partido Democrático Republicano (PDR) concorreu nas eleições legislativas de 2015 sem eleger nenhum deputado. Quatro anos depois, em 2019, perdeu mais de 80% dos votos e voltou a não eleger ninguém.
Em 2019, concorreu com o mesmo nome e voltou a eleger ninguém.
Decidiu mudar de nome, passou a chamar-se Alternativa Democrática Nacional, mas nas eleições de 2022 voltou a não eleger qualquer deputado. 
 
Para as eleições deste domingo apresentou-se a AD, Aliança Democrática, a ressuscitar o CDS e o PPM, com a sigla AD. Foi óptimo para o ADN. Não elegeu nenhum deputado mas cometeu a proeza de ter tirado à AD, dois ou três deputados. Descuido do PSD em analisar o ADN do ADN.

Alteraram-se significativamente as perspectivas de instabilidade decorrentes da entrada do Chega com 48 deputados na Assembleia da República? Não. Os dados estavam lançados com o lançamento, pelos outros partidos,  de Montenegro para os braços de Ventura. 
Disse isso aqui oito dias antes do dia das eleições: Se perderes, ganhas; se ganhares, perdes.
Saiu a bola preta a Luís Montenegro e a bola branca a Pedro Nuno Santos. 
A rapidez com que este felicitou o adversário, antes de serem conhecidos os resultados que dirão a quem cabem os 4 deputados eleitos pelos emigrantes é sintomático que lhe coube a sorte de perder.


Sunday, March 10, 2024

SÓ AGORA?

 AD apresenta queixa à CNE após “inúmeros relatos” de confusão com ADN AD apresenta queixa à CNE após “inúmeros relatos” de confusão com ADN 

Só agora?
 
Depois de tantas distâncias mal medidas a começar por uma coligação que só serve para ressuscitar o CDS
veio Passos Coelho com a imigração e insegurança; Paulo Núncio com o referendo ao aborto, Nuno Melo a trocar entusiasmado Montenegro por Pedro Nuno Santos; Ferreira Leite a ver na Covid uma vantagem para o governo em funções.
Haverá quem queira explicar que Ferreira Leite queria dizer outra coisa, mas o que disse não se explica,
é assim que funcionam as regras do marketing. Disse, está dito.

A admissão de duas designações de partidos no voto eleitoral, não devia ter acontecido, aconteceu, agora é tarde e Inês está morta.
A confusão pode prejudicar o partido maior e beneficiar o desconhecido. Ninguém percebeu isto na AD a tempo e horas?
Com a agravante da designação "Aliança Democrática" ser seguida por uma confusão de siglas que só entende quem tiver habilitações para isso. Num país onde a literacia não é um ponto forte dos portugueses aquela procissão só a entendem os devotos. E o conjunto de símbolos só pode aumentar a confusão.
Estou a exagerar?
Esperemos mais uns minutos,  daqui a pouco, são 18:35 começam a conhecer-se os primeiros resultados.
Se Montenegro perder, disse que se demite e eu acredito que ele vai cumprir.
Parabéns Montenegro. O que aí vem não vai ser nada fácil. Nada mesmo.

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act. 11/03
 

Wednesday, March 06, 2024

MACRON TEM RAZÃO

"Macron tem razão" é título de artigo de Teresa de Sousa, muito provavelmente, a jornalista e analista melhor informada sobre a União Europeia, publicado no Público de domingo, 3, Macron tem razão.
Não foi a primeira vez que Teresa de Sousa se posicionou contra a corrente anti Macron que se tornou "politicamente correcto" em Portugal, e não só. Também em França Macron não vai pelos caminhos fáceis da demagogia mas tem suportado os embates. 
Já em 10 de março de 2019, há cinco anos, TS titulava outro artigo no mesmo sentido - Macron fez o que devia. Os seus pares deviam fazer o mesmo.

Agora, a evolução da ameaça que paira sobre a União Europeia ganhou tamanho para que Macron não esteja isolado nas suas posições: Von der Leyen apresenta estratégia de defesa: para já tem orçamento de (apenas) €1,5 mil milhões - 5/03/24 - EXPRESSO.  
Van der Leyen, licenciada em Economia e doutorada em Medicina, foi ministra da Defesa no governo de Merkel. O actual chanceler alemão Olaf Scholz, do Partido Social Democrata da Alemanha mostra-se desconfortável com a política de defesa pretendida por Van der Leyen.
E sem a adesão da Alemanha, a segurança europeia espera até chegar o momento de desespero, quando já for tarde demais.
Em 4 de Fevereiro, há cerca de um mês, Teresa de Sousa escrevia:  União Europeia de Defesa: o regresso de uma velha ideia.
 
Escrever agora sobre um tema que não interessa aos portugueses, num momento em que se engalfinham os partidos para chegar ao poder em Portugal, só lembra ao diabo? 
Não. Também ocorreu a Sérgio Aníbal que hoje recorda no Público aos sonâmbulos em modo de ruído: Um mundo cheio de riscos ameaça programas traçados pelos partidos .
A propósito, ontem foi a super terça-feira nos Estados Unidos da América, a Super Tuesday, do nosso descontentamento: Trump garantiu a sua nomeação pelos Republicanos às presidenciais deste ano, a 8 de novembro.
Espero que a ninguém que leia o que estou agora escrever ocorra a bizarra ideia de perguntar-se: "E o que é que eu tenho a ver com isso?.
Devo esclarecer que não estou a imaginar a pergunta, porque já a ouvi a gente que se julga geralmente bem informada.

Não sei qual o interesse que merecem aos portugueses as eleições primárias que se realizaram ontem  em 15 Estados dos Estados Unidos da América. É conhecida como a Super terça-feira por nela se decidirem aqueles que, muito provavelmente, se confrontarão em 8 de novembro para as eleições presidenciais: muito provavelmente, Biden, do lado Democrata e Trump do lado Republicano.
Apesar de ser muito provável o confronto Biden - Trump, até 8 de novembro muitos acidentes poderão, entretanto, ocorrer incidentes que desviem o caminho que, agora se toma como conhecido. Seria chato e inútil comentar alguns desses possíveis acidentes de percurso, que outros com conhecimentos da matéria, que eu não tenho, continuam a escalpelizar, fora de portas e, sobretudo, creio eu, portas adentro.

Não é só o desinteresse dos portugueses relativamente às eleições norte-americanas em novembro deste ano, que se compreende, sobretudo neste momento de vésperas de eleições legislativas em Portugal, mas a generalizada falta de percepção, em Portugal e na União Europeia, dos impactos que os resultados das presidenciais (e não só) dos EUA este ano terão  na União Europeia no contexto mundial. Muito sobretudo, porque Trump tem, a partir de ontem, a nomeação pelos Republicanos garantida. 
Trump tem agora estendida a passadeira para a nomeação pelos Republicanos, indefectíveis apoiantes de um indivíduo sobejamente conhecido pelos atentados à democracia liberal que os norte-americanos sempre defenderam.
Os indefectíveis de Trump são contra o direito da mulher ao seu corpo, condenando a prática do aborto. Curiosamente, ou talvez não tanto quanto parece, os franceses aprovaram esta semana, por esmagadora maioria, na Assembleia Nacional Francesa a inscrição na Constituição da República o direito constitucional da mulher a abortar. É o primeiro país no mundo a fazê-lo. 
Mas há mais, há muito mais, mas vamos referir só mais um: os indefectíveis de Trump prosseguem crenças que só podem fazer estremecer quem tem conhecimentos, mínimos que sejam, da evolução do conhecimento científico: tomam a Bíblia (os islâmicos da mesma laia tomam o Corão) para imporem, tanto quanto a sociedade em que se inserem lhes permite, ou até apoiam, a proibição do ensino da teoria da evolução das espécies. Para estes indefectíveis de Trump a teoria da evolução das espécies é treta, a espécie humana foi colocada na Terra por disposição divina, toda a a gente deste mundo descende de Adão e Eva, é o que eles leem na Bíblia (não sei se leem ou alguém leu por eles), são os criacionistas.   
O actual líder dos Republicanos na Câmara dos Representes, ilustre desconhecido, membro da Câmara, eleito por exclusão estratégica mútua dos mais conhecidos, tem a Bíblia como lei supra constitucional, interpretada literalmente, como qualquer islâmico que ficou preso ao Corão do século sétimo. 
Há muito mais crentes no criacionismo do que muita gente, mesmo entre a mais finamente educada, que desconhece a amplitude do criacionismo em todo o mundo.
O criacionismo, aliás, tem também os seus argumentos de marketing: se, ou quando, a espécie humana, por alguma razão, e há algumas fortes demais,  desaparecer, a divindade coloca cá outro Adão e outra Eva, eventualmente com alguns defeitos, que os milénios evidenciaram, corrigidos, e melhorados com alguns gadgets, com inteligência artificial, por exemplo.

Voltando a Trump e as muito sérias ameaças para a Europa que a sua presidência a partir do início do próximo anos pode determinar, 
Viktor Orbán vai ser recebido, a seu pedido, por Trump, no seu luxuoso resort na Flórida depois de amanhã: 
 
O que vai pedir Orbán a Trump?
Trump já anunciou publicamente que deu a Putin garantias de que os EUA não ocorrerão a defender a União Europeia contra uma invasão de Putin. Putin tem luz verde fixa, pode avançar à vontade. 
Quererá Orbán lembrar a Trump que Hungria é parte da União Europeia e, consequentemente, pode ser apanhada pelo raide global de Putin?
Ou simplesmente que Trump dê tempo a Orbán para esmifrar mais uns milhões à UE antes de se passar de armas e bagagens definitivamente e sem mais conversas para o lado de Putin?
Se nada disto, então que vai fazer Orbán a Mar-a-Lago? Só jogar golfe? 
 
O mundo está mesmo muito complicado.
Mas há, felizmente para nós, uma excepção. Em Portugal só está muito pouco complicado.

Saturday, March 02, 2024

SE PERDERES, GANHAS; SE GANHARES, PERDES

Antes de mais, alerto quem teve a pachorra de ter chegado agora até aqui, que não sei mais do que dizem as últimas sondagens, que ressaltam a importância relativa dos votos dos indecisos (22%)
Eu não faço parte dos indecisos, e já decidi: não vou votar.
Porquê? Não seria relevante a minha resposta.
 
Feita esta "declaração de interesses". Vou tentar explicar a aparente falta de razoabilidade do título deste apontamento.
Segundo as sondagens mais recentes, a distância entre AD e o PS é suficientemente estreita para poder ser ultrapassada, num sentido ou noutro, pela votação dos indecisos, ou daqueles que, entretanto, ou à última hora se decidirem a votar. 
É com base nestas permissas, e  mais nenhumas, que penso que quem ganhar, perde; quem perder, ganha, independentemente de o vencedor ser um ou outro dos dois que se perfilam na primeira linha de hipóteses de ganhar.

Comecemos por Montenegro. 
A AD, segundo as sondagens saídas anteontem, situava-se 5 pp acima do PS.
Montenegro teve uma semana cheia de incidentes que obrigaram o homem em vir atrás tentar limpar o que outros sujaram. Já tinha na equipa (ou tinha sido obrigado a ter) um bronco machista fadista, e depara-se com a obrigação de limpar uma proposta de intenções de reabertura (proposta conhecida em plena recta final da campanha eleitoral) da questão da legalização do aborto, quando já ninguém se lembrava disso.
Depois, para além de intervenções desastradas  de outros participantes menores, aparece Passos Coelho a falar de imigração e falta de segurança no mesmo período. Montenegro deve-se ter coçado, mas aguentou.
Entretanto, Montenegro tinha levado com um projéctil de tinta verde na cara. Estoicamente, aguentou, mas não lhe safou a amargura dos dias anteriores.
Ontem, num discurso, não percebi onde, Nuno Melo embalou (isto estava a correr tão bem, disse ele para quem estava por perto, o microfone também) e pediu alto e bom som que os portugueses votassem em Pedro Nuno Santos. A sala gelou, se houvesse ali um buraco, o Nuno Melo tinha-se enfiado nele, mas reequilibrou-se. 
Com a ajuda destes amigos, Montenegro tem muitas possibilidades de perder. 
E se perder, ganha. Ganha o quê?
Não ter de enfrentar uma frente de reclamantes sem freio e o desafio de não aumentar da dívida pública acima do nível a que receber do governo cessante.
Pode Passos Coelho tentar interpor-se aceitando o Ventura como companheiro da alegria? Pode mas partirá o PSD ao meio e ganha o Chega. De qualquer modo, Montenegro estará, sorte dele, fora de jogo.
 
Quando a Pedro Nuno Santos (PNS) o imbróglio será idêntico. 
António Costa manteve o "país tranquilo" com a invenção da geringonça. Os sindicatos recebiam indicações da CGTP, a CGTP recebia indicações do Partido. Com as eleições que deram maioria absoluta ao PS, os partidos à esquerda deste foram arrasados e mais arrasados ficaram com a emergência do Chega a introduzir-se em alguns sindicatos críticos, e a entrada de outros à rédea solta. 
Com o arrasamento do Partido e seus próximos, a CGTP foi a mais arrasada.
Se PNS ganhar, e perde Montenegro, PNS não tem quem lhe segure o freio dos reclamantes, e perde.
A menos que, sem medo de pôr a tremer as pernas dos credores externos, aumente a dívida e aguente a situação até assinar contrato com a troica.
 
Obs - O jogo do "perde ganhas" é o "jogo de damas" ao contrário: quem perde, ganha.
Há quem garanta que no "perde ganhas", ganha quem sair primeiro. Não sei se é verdade.

Wednesday, February 21, 2024

O GÉNIO POLÍTICO DE PNS

Não era minha intenção anotar neste caderno de apontamentos qualquer reparo à unanimidade, salvo se me escapou alguma excepção, dos comentadores pós-debate entre Luís Montenegro de Pedro Nunes dos Santos: Pedro Nuno dos Santos ganhou o debate. 
E porquê?
 
Decisivamente, porque na sua primeiro intervenção, PNS fez questão de afirmar, alto e bom som, que não devem tolerar-se manifestações como aquela que, ruidosamente, se ouvia no interior do Capitólio, de polícias, guardas republicanos e outras forças a reclamarem condições que, segundo PNS, são justas e devem ser resolvidas com urgência. Montenegro, a quem coube ser o primeiro de pronunciar-se,  respondendo à moderadora de serviço, considerava que as reclamações dos agentes de segurança eram justas e tinham de ser satisfeitas. Não garanto que as palavras tenham sido, tal e qual estas, mas o sentido da resposta de LM não deve ter andado longe do que retive. 
PNS, que respondeu a seguir, foi demolidor da concentração autorizada. Soube-se depois que a concentração tinha sido autorizada pela Câmara de Lisboa para ser realizada na Praça do Comércio mas, dali, os manifestantes tinham atravessado até à entrada do Capitólio, num espaço donde só saía quem os manifestantes deixavam sair.

Com aquela atitude afirmativa de autoridade do Estado, PNS, segundo a unanimidade dos comentadores, ganhou o debate, Montenegro perdeu. E perdeu porquê?
 
Porque Montenegro poderia ter contraditado PNS lembrando-lhe que aquela concentração, que PNS veementemente reprovou com indignação, tinha como origem uma decisão do governo socialista (do partido que PNS ali representava) ao atribuir um prémio de risco à PJ, esquecendo-se as repercussões iriam ter nas polícias e guardas em geral.
Mas não só.
As responsabilidades do governo (agora provisório) poderão agora inibi-lo de realizar as negociações que deveria ter feito mas não fez. Mas não o inibem de continuar a segurar as rédeas da segurança dos portugueses.
Mais anda.
Esta manhã ouvi na antena 1 declarações de José Luís Carneiro, ainda membro do governo como ministro da Administração Interna, indignado por ter dado ordens aos comandos da PSP e da GNR de adopção medidas adequadas à garantia da segurança nos locais onde decorrem os debates. Pelos vistos, as suas ordens não foram observadas nem obedecidas.
Que fizeram os comandantes da PSP e da GNR?
Mandaram instaurar inquéritos remete-los ao Ministério Público. 
Até hoje, segundo anterior bastonário da ordem dos advogados, destes inquéritos nunca resultou a culpabilização de ninguém: A lei terá cerca de 50 anos e é suficientemente vaga para poder o MP inculpar alguém.

A culpa é, afinal, de Montenegro. 
E, talvez por isso, se tenha de demitir da presidência do PSD quando forem conhecidos os resultados de 10 de Março.

Thursday, February 15, 2024

COMO DOMESTICAR AQUELE ROTTWEILER?

Dois dias depois de Trump ter incentivado Putin - vd aqui - a prosseguir a expansão territorial dos domínios russos, que são, de longe, os mais extensos do mundo, invadindo os países da União Europeia que não contribuírem com, pelo menos, com dos seus 2% dos seus orçamentos para a NATO.
O argumento do incentivo de Trump não podia ser mais declaradamente hipócrita. Putin: ataca os que não pagam o suficiente para uma Organização que eu quero extinguir!
Sem capacidade de defesa própria, render-se-ão ao teu primeiro movimento porque não contarão com a ajuda norte-americana.
Putin não perdeu tempo e renovou as suas ameaças aos, territorialmente, muito pequenos países bálticos, que, com a maior determinação, aproveitaram a primeira oportunidade surgida após a implosão do império soviético para sairem da alçada da bota dos ditadores russos.
E não querem voltar à escuridão dos dias passados, que não esquecem.
Na Estónia, na Letónia, na Lituânia, permanecem muito vivos os tempos em que viveram presos nos seus próprios países às ordens do Kremlin, e as ameaças de Putin são um terror permanente que, inevitavelmente, condiciona as suas vidas. 
Poderão alguns, muitos demais, não bálticos, considerar que cão que ladra não morde porque nunca foram mordidos pelos sequazes do imenso território vizinho. Imenso e com cão capaz de os destruir de um momento para o outro. A eles, e a quem tenha a temeridade, de algum modo, procurar apaziguar o rottweiler.
 
Há quem, há muitos, há demais, considere que só há uma solução - a procura da paz (também eu) só não dizem como - depois de antecederem as suas posições em cima do muro onde  supõem encontrarem-se a salvo de maus encontros, adiantando que detestam Putin e ainda mais, Trump, mas ... e mantêm-se em cima do muro, repugnando-lhes, só eles saberão porquê, descer e colocarem-se de um lado ou do outro, parecendo esquecer que Putin e Trump estão, e estarão ainda mais se Trump for eleito em 8 de novembro, lado a lado um do outro lado do muro que separa, por enquanto, o mundo livre da prepotência da lista de candidatos a ditador único de todo mundo.

Isso não vai acontecer nunca, ouço dizer a alguns que tiveram a pachorra de ler, até aqui, o que escrevo. 
Mas não têm argumentos consistentes para a além da sua fezada de que os rottweiler se forem convenientemente domesticados, até podem ser uns interessantes e úteis animais de companhia.

Russia puts Baltic officials on wanted list as Estonia warns of war plans - c/p aqui

As Estonian PM Kaja Kallas is targeted by Russian police, intel chief warns Russian war on West coming in ‘next decade’. - Published On 13

Estonian Prime Minister Kaja Kallas speaks to the press as she attends a European Union summit in Brussels, Belgium February 1, 2024
Estonian Prime Minister Kaja Kallas speaks to the press as she attends a European Union summit in Brussels, Belgium, on February 1, 2024 [Reuters] .
 

Russian foreign ministry spokeswoman Maria Zakharova said on Tuesday that Estonian Prime Minister Kaja Kallas and two other top Baltic officials have been added to the country’s wanted list. The move coincided with the release of an Estonian intelligence report warning that Russia is gearing up to wage war on the West in the coming decade.

--- correlacionado

Notícia de última hora desta tarde - 16/02/24

 

Sunday, February 11, 2024

O INFAME INIMIGO PÚBLICO NÚMERO UM DA EUROPA

Não foi, até agora, abordado o tema nos debates a que assisti, por nenhum dos candidatos às eleições de 10 de Março, nem questionado pelos entrevistadores, as consequências da guerra que, há quase dois anos, é travada nas fronteiras da União Europeia entre a Rússia e a Ucrânia.
Que a Rússia pretende submeter todo o território ucraniano ao seu domínio é inegável, porque Putin tem afirmado e reafirmado esse propósito iniciado com o que ele em 24 de fevereiro de 2022 quando afirmou ao mundo: "Tomei a decisão de realizar uma operação militar especial".  E Vladimir Putin iniciou a invasão da vizinha, Ucrânia, desencadeando o pior conflito no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial."
 
Do que se passou desde então, todo o mundo viu as imagens tele visionadas do constante massacre, da brutalidade, do horror sem qualificação possível, a que os povos ucranianos foram e, continuam e a estar, sujeitos.
A Ucrânia está defender-se com as armas que tinha, mas também sobretudo com a vontade de se manter livre fora de um regime que a oprimiu durante séculos. Contou com as armas que, de forma insuficiente, porque medrosa, têm sido fornecidas pelos EUA e pela União Europeia e um outro membro da Nato não membro da União Europeia, mas que agora vêm esvair-se porque os partidários de Trump na Câmara de Representantes recusam continuar o auxílio norte-americano. E a União Europeia (Áustria, Irlanda, Chipre e Malta não são membros da Nato)  não tem meios de defesa, nem materiais nem sistemas organizativos para dar à Ucrânia os meios de defesa que a Ucrânia necessita para manter a soberania do seu território e, implicitamente, a soberania dos europeus livres.

Apesar dessa notória insuficiência de meios de defesa, os ucranianos têm resistido de forma que só encontra paralelo possível na, naquela altura, inacreditável, resistência dos bravos finlandeses que enfrentaram os exércitos soviéticos em obediência a Estaline, durante a guerra iniciada pelo ditador soviético às 10:30 da manhã de 30 de novembro, com o bombardeamento massivo de bombas sobre Helsínquia.   
"Nas semanas seguintes, o mundo assistirá com admiração como o pequeno exército de uma pequena república báltica trava uma guerra que inspirará a luta contra os militares invasores, contra o poderio militar da União Soviética" - William R. Trotter - "Inferno Congelado".
 
Em 1940, a Finlândia foi obrigada a ceder parte do seu território após a perda de muitos militares seus, mas infligindo aos soviéticos perdas de vidas e materiais em número muito superior. Manteve a sua soberania e garantiu a sua neutralidade. Até ao ano passado, quando sob tremenda ameaça de Putin, Finlândia e Suécia solicitaram adesão à Nato.

Mas de Putin já são há muito conhecidas as suas ambições de domínio sobre a Europa Livre.
Também já eram conhecidas as intenções de Trump, se for eleito presidente em 8 de novembro.
Agora, ficámos a saber que os contornos da traição de Trump aos compromissos aos europeus, propondo-se terminar a guerra na Ucrânia, oferecendo a Ucrânia Putin, são mais imediatos: 
 
"Donald Trump disse no sábado que, se for reeleito Presidente dos Estados Unidos, avisou os aliados da NATO que encorajaria a Rússia a fazer o que entendesse com países com dívidas à NATO. - Lusa - aqui Trump fez estas declarações enquanto intensificava os ataques à ajuda externa e às alianças internacionais de longa data, ao falar num comício na Carolina do Sul, onde relatou uma história que já antes contara sobre um membro da NATO não identificado que o terá confrontado sobre a ameaça de não defender os Estados que não cumprissem as metas de financiamento da Aliança Atlântica.
O ex-presidente norte-americano critica frequentemente os aliados da organização que não financiam suficientemente a instituição."Um dos presidentes de um grande país levantou-se e disse: Bem, senhor, se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, vai defender-nos?", relatou o milionário antes de revelar a resposta: Não, não vou proteger-vos mais. Aliás, vou encorajá-los a fazerem o que quiserem. Vocês têm de pagar as dívidas".
 "Não pagou, é delinquente", disse Trump ao recordar o episódio.
 
Quem é que não paga as dívidas?
Antes tinha afirmado que os aliados da organização não financiam suficientemente a instituição.
São afirmações claramente distintas, se não contraditórias, mas reafirmam a intenção de Trump de continuar a pressionar os seus apoiantes (muito provavelmente, neste momento, uma maioria dos norte-americanos) a continuarem a recusar o apoio dos EUA à Ucrânia e, implicitamente, a incumprirem os seus compromissos na NATO.
 
Voltando ao princípio deste apontamento: Em Portugal a questão da ameaça militar russa parece não ser tema que valha a discussão entre os principais líderes partidários.
Discutem-se, e ainda bem, as políticas nas áreas da saúde, da educação, da desigualdade fiscal, da pobreza e da riqueza extremas,  do crescimento económico, sem o qual não há políticas susceptíveis de vingar, muito pouco, quase nada, na área da justiça, e nada no campo da defesa.
É Portugal, quanto a ausência de discussão de políticas de defesa externa, um caso raro na União Europeia?
Lamentavelmente, tanto quanto sei, não é.
Por medo?
Por cobardia?
Há muitas promessas, muitas visitas de cortesia, muitas palmadas nas costas, mas pouca ajuda, e, sobretudo, uma ausência absoluta de um caminho resoluto para uma União Europeia de Defesa. Uma política que, não nos iludamos, exigirá ainda mais sacrifícios aos europeus, mas que evitará no futuro "sangue suor e lágrimas" dos agora mais jovens.
 
Tornou-se a União Europeia uma união de cobardes onde prepondera a demagogia e a chantagem de um ou outro traidor fiel a Putin e admirador de Trump?
Parece-me que sim. E, se assim continuar, a liberdade europeia será derrotada.
 


c/p Semanário Expresso - 16/02/2024